segunda-feira, 31 de março de 2008

O Meu Amor

"O meu amor tem lábios de silêncio
e mãos de bailarina,
e voa como o vento
e abraça-me onde a solidão termina.
O meu amor tem 30.000 cavalos a galopar no peito
e um sorriso só dela,
que nasce quando a seu lado eu me deito.
O meu amor ensinou-me a chegar sedento de ternura,
sarou as minhas feridas
e pôs-me a salvo para além da loucura.
O meu amor ensinou-me a partir nalguma noite triste,
mas antes ensinou-me a não esquecer
que o meu amor existe."

Jorge Palma

sexta-feira, 28 de março de 2008

A Luta

"O coração, se pudesse pensar, pararia."

Fernando Pessoa

quarta-feira, 26 de março de 2008

Os Números

"Quando Deus fala consigo próprio, canta álgebra".

George Steiner

domingo, 23 de março de 2008

Infância Eterna

"Trato o coração como se trata uma criança doente, satisfazendo-lhe todos os caprichos."



J.W. Goethe, Werther

Tempo

"(...) As histórias também se vivem sem se saber".



Marguerite Duras, Olhos Azuis, Cabelos Pretos

quarta-feira, 19 de março de 2008

A vitória da construção sobre a invenção

"Stendhal: não tenho nenhuma recordação. Este é um dos grandes defeitos do meu intelecto: não páro de dar voltas a qualquer coisa que me interesse e de tanto examiná-la de tantos pontos de vista diferentes, acabo por ver algo de novo, e altero completamente o seu aspecto."



Cit. por Eduardo Halfon, O Anjo Literário, Cavalo de Ferro, 2008, p. 114.

De que lado estás?

"Repare, a literatura tem duas vertentes: escritores metidos na vida e escritores metidos num quarto. Eu estou com os primeiros, aqueles decididos a viver, como Villon, como Hemingway, como Malraux, como o próprio Revueltas."



Eduardo Halfon, O Anjo Literário, Wunderkind, Cavalo de Ferro, 2008, p. 111.

Diário

"Alguém escreve a sua vida, quando julga escrever as suas leituras."





Eduardo Halfon, O Anjo Literário, Estranhas Amizades, Cavalo de Ferro, 2008, p. 94.

terça-feira, 18 de março de 2008

Parto Doloroso

"Hoje, anos mais tarde, sei muito bem porque é que eu desejava ser como Malraux: porque esse escritor, para além de ter uma expressão de homem curtido, tinha construído uma lenda de aventureiro e de homem não incompatível com a vida (à sua volta). O que eu ignorava era que para ser escritor era preciso escrever, e escrever bem, algo que requer coragem e, sobretudo, uma paciência infinita, uma paciência que Oscar Wilde definiu muito bem. Disse ele que passara toda a manhã a corrigir as provas de um dos seus poemas e que, por fim, tirou apenas uma vírgula. À tarde, voltou a colocá-la."





Eduardo Halfon, O anjo literário, Cavalo de Ferro, 2008, p.51.

Aos Sessenta

"Vou simplesmente passar o dia à quinta, gosto de a saborear sem o peso da minha solidão reflectida na tua. Estarei em casa - como e para sempre - à hora de jantar."





Júlio Machado Vaz, O amor é..., Texto Editores, 2007.

Génio

"Espero que quando a inspiração chegar me encontre acordado."



Pablo Picasso

Criação

"Neste instante não está aqui nada e no seguinte algo aparece."



Paul Auster

Caminho

"Alugo um veículo de tracção às quatro rodas, conduzo o dia todo para percorrer noventa quilómetros, sigo por um caminho que não leva a lado nenhum e que, por fim, me leva ao ponto mais desolado da minha vida."





Gonçalo Cadilhe, Única, Expresso, 2007.

Caiu-me do Céu

Coup de grâce

Uma mulher
nunca pode
apaixonar-se
por um homem
antes de o homem
se apaixonar
por ela
o homem pune-a
por isso
e por muito mais
o homem não a abate
vai-se embora
fechado em copas
a mulher pune-se
a si mesma
se não tem vergonha
por si
tem pena
menina e mãe
num saco
estóicas
como a pescada
que antes de o ser
já o era


Adília Lopes, Obra. Lisboa: Mariposa Azual, 2000. p. 353

Será?

"É o ensino da História que começa a anular o cidadão (...) Quando dizem: deves conhecer os factos históricos da tua nação, estão na verdade a dizer: deves esquecer que tens uma memória individual e que esta funciona sozinha".

Gonçalo M. Tavares, A Máquina de Joseph Walser

segunda-feira, 17 de março de 2008

O SORRISO

"Creio que foi o sorriso,
o sorriso foi quem abriu a porta.
Era um sorriso com muita luz
lá dentro, apetecia
entrar nele, tirar a roupa, ficar
nu dentro daquele sorriso.
Correr, navegar, morrer naquele sorriso."

Eugénio de Andrade, "O Outro Nome da Terra"

sexta-feira, 14 de março de 2008

Meus Vivos mortos

Miguel Sousa Tavares (a propósito da perda de sua Mãe, a escritora e poetisa Sophia de Mello-Breyner), 23.08.2006:

"... E de novo acredito que nada do que é importante se perde verdadeiramente.
Apenas nos iludimos, julgando ser donos das coisas, dos instantes e dos outros.
Comigo caminham todos os mortos que amei, todos os amigos que se afastaram, todos os dias felizes que se apagaram. Não perdi nada, apenas a ilusão de que tudo podia ser meu para sempre."

"... A morte não existe realmente, ela é fruto da nossa visão estreita da vida."