segunda-feira, 7 de abril de 2008

Interrogação

Interrogação

"Não sei se isto é amor. Procuro o teu olhar,
se alguma dor me fere, em busca de um abrigo;
E apesar disso, crê! nunca pensei num lar
Onde fosses feliz, e eu feliz contigo.

Por ti nunca chorei nenhum ideal desfeito.
E nunca te escrevi nenhuns versos rmânticos.
Nem depois de acordar te procurei no leito
Como a esposa sensual do Cântico dos Cânticos.

Se é amar-te não sei. Não sei se te idealizo
A tua cor sadia, o teu sorriso terno...
Mas sinto-me sorrir de ver esse sorriso
Que me penetra bem, como este sol de Inverno.

Passo contigo a tarde e sempre sem receio
Da luz crepuscular, que enerva, que provoca.
Eu não demoro o olhar na curva do teu seio
Nem me lembrei jamais de te beijar na boca.

Eu não sei se é amor. Será talvez começo...
Eu não sei que mudança a minha alma pressente...
Amor não sei se o é, mas sei que te estremeço.
Que adoecia talvez de te saber doente."

Camilo Pessanha, Clepsidra

2 comentários:

MSP disse...

e este deixou-me arrepiado. Já cortei parte do Goethe para pôr no meu. Devia ter linkado, eu sei, mas espero que não te importes

Margarida Damião Ferreira disse...

Não me importo nada. O objectivo é partilhar as leituras. Mas... a verdade é que, se linkares, passarei a partilhar outras das minhas leituras também com os teus leitores ...